
GILKA MACHADO: A POETA QUE DESAFIOU A HIPOCRISIA E O MORALISMO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Por Redação NL – Notícia Livre
Há mais de cem anos, o Brasil testemunhava a força de uma voz feminina que buscava espaço em meio a uma sociedade marcada pelo moralismo, pelo patriarcado e pela exclusão da mulher no campo literário. Essa voz era da carioca Gilka Machado (1893–1980), considerada por muitos críticos a primeira poeta simbolista do Brasil e uma das pioneiras em tratar com coragem da sensualidade feminina em versos.
Uma trajetória marcada pela ousadia
Desde muito jovem, Gilka escreveu poemas em que o corpo, o desejo e a subjetividade da mulher apareciam como protagonistas. Ao lançar-se na literatura, foi alvo de severas críticas e ataques de setores conservadores, que a tachavam de “imoral” e “indecente”. Ainda assim, publicou obras como Cristais Partidos (1915), Estados d’Alma (1917), Mulher Nua (1922) e Meu Glorioso Pecado (1928), títulos que por si só já revelam a ousadia de sua proposta estética e existencial.
A poeta e o sectarismo moralista
Num tempo em que a mulher era relegada ao silêncio doméstico, Gilka ousou escrever sobre prazer, erotismo e liberdade. Sua poesia, impregnada de simbolismo e musicalidade, fazia uma espécie de denúncia contra o sectarismo moralista da época. Não raro, foi censurada, invisibilizada e ridicularizada por críticos homens que a queriam fora dos círculos literários.
Resistência e reconhecimento
Apesar das tentativas de silenciamento, Gilka Machado conquistou espaço. Foi eleita em 1933 a “Rainha dos Poetas do Brasil” em concurso nacional promovido pela revista Fon-Fon, superando nomes masculinos de destaque. A escolha foi simbólica: uma mulher que se recusou a se calar foi coroada pela própria voz popular.
Legado e influência
A poesia de Gilka Machado abriu caminhos para gerações posteriores de escritoras que também ousaram desafiar tabus. Sua obra ecoa hoje como um marco de resistência feminina e literária. Em um país que ainda enfrenta desafios na equidade de gênero, revisitar Gilka é um ato de memória e de justiça.
Seus versos, antes combatidos, hoje são lidos como celebração da liberdade e da potência criadora da mulher. Ela é lembrada como precursora do feminismo literário no Brasil, uma poeta que fez da palavra um instrumento de emancipação.
Imagem: Reprodução/Divulgação
Referências:
MACHADO, Gilka. Cristais Partidos. Rio de Janeiro: Editora Anuário do Brasil, 1915.
MACHADO, Gilka. Mulher Nua. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello & Cia, 1922.
MACHADO, Gilka. Meu Glorioso Pecado. Rio de Janeiro: Tipografia da Revista dos Tribunais, 1928.
MACHADO, Gilka. Estados d’Alma. Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, 1917.
MACHADO, Gilka. Velha Poesia. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1965.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras. São Paulo: Escrituras, 2002.
MOURA, Murilo Marcondes de. A Literatura Brasileira e o Modernismo. São Paulo: Editora da USP, 2011.
PINHEIRO, Vagner Camilo. “Erotismo e modernidade em Gilka Machado”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 45, São Paulo: USP, 2007.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). 26 Poetas Hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.
CAMARGO, Maria Lúcia Dal Farra. Erotismo na Poesia de Gilka Machado. São Paulo: Edusp, 1990.
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